Nas primeiras horas de dedos livres, usava uma verdade pesada, como um paletó de lã grossa na chuva. Diante das teclas da velha máquina de escrever de nome próprio... Respirava a fumaça do cigarro preso entre o indicador filosófico e o dedo-maior quadrado. E sentia-se como um brinquedo esquecido embaixo de um móvel desusado. Seu papel ali era manter-se sentado até descarregar linhas de membros rijos e bicos rosados.
Se fosse necessário buscaria um volume da "crucificação encarnada" e sentiria a excitação de Miller, de frente par'o espelho... De palma firme e dedos leves. Mas logo voltava-se para a verdade pesada sobre os ombros, a mesma verdade que prendia-o olhando-se no espelho nu, a verdade rubra, quente, que escapa quando se quer bem perto. Aproximaria os lábios dizendo "me enfeita num beijo". E a verdade que toca sutilmente e liberta as mãos, alongando os segundos e definindo sabores... Se transformaria em ação sutil. A verdade que enfeita, que revela cuidadosamente abraços e apertos, enquanto perto do peito longas páginas são edificadas. Respiraria profundamente e a pedido dos desejos rabiscaria linhas sobre o sabor de mar e o perfume de carne úmida. E mais uma vez o brinquedo encontrado rolaria para a beirada e desapareceria ao cair novamente... Mas ficaria lembrado, agora como o enfeite de um beijo.
FOTOGRAFIA - DAVID HAMILTON
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