2.3.10

O tal "ato trabalhoso"

Escrevo por motivos singulares, rudes e pesados aos ombros, escrevo porque vivo demais. Escrevo porque vago por veredas de sensações. Onde crises e especulações, são de praxe, rotineiras - São fantasmas da casa. E é sempre no amanhecer do dia seguinte que se descarrega a carga de todos os dias anteriores.
Carga essa que desse pela carne nua - Como água corrente. Carga crua de verdades arranjadas 
no papel. Cada palavra desenhada - Cada linha vencida. A ideia é distribuída e meus ombros - Deixam de pesar - É nesse labor de traços e rabiscos que  a literatura avança - Sem o progresso acinzentado nem a compassiva vontade dos positivistas e mansos.
Percebi que não me comovo
 com palavras alheias, não há momentos bons que apresentem a satisfação. A tendência é piorar, é negar - Porque negar é arte, para quem quer "melhorar" a si mesmo, como correr em círculos fechados com uma regularidade traumatizante. Tudo advêm da necessidade de desordem - O caos também leva a ordem, empertigado em mitos e folclores. Hoje alguns dizem que o que ocorre  - Já era dito anteriormente  por "aqueles mais antigos" - parábola? Não sei - Talvez tenha sido a promessa de previsões para o que se teria para o futuro. Aperfeiçoamento? Alguns tentam antropomorfizar tudo - Beirando a egolatria, as olhadelas no espelho. Todos somos o sol - Ao menos  é o que se considera - Já que somos "importantes". A estrela da manhã - Talvez seja quem fantasie verdades nunca realizadas - Para que não fiquemos presos ao cometa Halley de espera e acontecimentos. 
A espera é a chance que se tem para apalpar a realidade... Chegar ao Olimpo de suas realizações. Mas diante de acontecimentos onde a espera é longa - O homem foge para outros caminhos - Por vezes satisfazendo-se com pouco, muito pouco. Como quando se manda uma bola caçapa abaixo, mas só por tentar - Já que o jogo está perdido.Todo escritor conhece o que é sentimento e realização nas linhas de outras obras.Sabe que mui do que se tem por escrito existe de uma forma ou de outra - Melhorando ou piorando, sentado diante de uma porção de fatos e atos facilmente modificados.O escritor sempre está lá - Entre a névoa, ou quando as tardes adquirem aquela sutileza de luz alaranjada - Doentia - E fixa - Como um quadro de Van Gogh. O escritor sempre está lá - Por mais difícil que pareça alcançar... Eu sempre estou lá -  E escrevo - Escrevo porque não há triste melodia tocando em parte alguma de meu corpo. Escrevo porque sou inquieto, prefiro delícias terrenas, essa é a viagem que fazemos entre Deuses e semideuses - Porque jamais haverá um mortal que desfrute das delícias.





Fotografia - Bresson

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